
Na varanda... observando o nada, olhando o abstrato,
mãos tremulas, indefeso, absorto ao que lhe rodeia,
alguém aguarda o tempo passar... como se esperasse.
A pele amarrotada das lutas, as mãos ásperas da labuta,
o pensar quase vazio de solidão, e a garganta seca
de silencio,
sozinho, inda vive o que lhe resta, o que só sobrou
do existir.
Na varanda do asilo, deparei-me com o tempo,
e ele apenas limita alguns movimentos, alguns reflexos,
principia a lentidão do agir, e a fadiga do corpo.
Mas... sustenta a robustez da alma, e o amor pela
existência.
E não se morre de velhice...
O que arrasa, destrói, resseca a essência da vida,
é a indiferença.
Na varanda de um asilo encontro o que resta de
um homem,
Absolutamente só... abandonado.
Falta-lhe o afago, o calor da pele, o beijo que se perdeu
pelo caminho.
Falta-lhe o lar, seus amores, seu jardim em flores.
Falta-lhe convivência...
Envelhecer é uma serena preparação para o fim,
e o fim é apenas uma passagem para outras vidas.
Naquela varanda existe um homem que ainda
resta-lhe...
amor.
Ari Mota